domingo, 30 de novembro de 2008

CONSIDERAÇÕES SOBRE MESTRES, FEDERAÇÕES, PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E LIBERDADE INDIVIDUAL

O Taekwondo tem passado nestes últimos anos por grandes transformações a nível mundial. O Brasil não resistiu a esses fortes ventos vindos lá de fora e já não somos mais os mesmos. Essas mudanças, embora necessárias, implicam em sacrifício, e com essas transformações temos observado o surgimento de barreiras até então, aparentemente intransponíveis. Sabe-se que o Taekwondo chegou ao Brasil na virada dos anos 70. De lá para cá grandes mestres coreanos se revezaram na solidificação desta Arte Marcial em solo brasileiro. Minimizar esta contribuição seria um equívoco. Porém, percebemos que alguns mestres não conseguiram estabelecer uma ação padronizada, além de não terem dado mais atenção à formação de mestres brasileiros para continuar esta missão, que seria coordenar e administrar o TKD nacional. Com isto, as sucessões a nível estadual e nacional, que deveriam ser um processo normal, transformaram-se em uma espécie de quebra de braço entre mestres brasileiros e coreanos, o que gerou um clima de desconfiança, desarmonia e, conseqüente, instabilidade em nossas instituições. É evidente que importantes mestres coreanos, que até um determinado momento deram importante contribuição nesse processo, acomodaram-se em alguns cargos nas Federações ou na Confederação e abriram mão do seu papel fundamental, ser Mestres; transformando-se em dirigentes esportivos convencionais que a imprensa brasileira costuma chamar de cartolas. Esta acomodação, além de não ter ajudado na construção de um futuro estável em nossas instituições, deixou um vazio nos nossos referenciais éticos e morais, devido ao afastamento do seu papel principal, mestres formadores de homens e de caráter. E, se o Tae Kwon Do ainda pode ser considerado uma Arte Marcial, perdemos nossos guias na busca do DO, ou seja, do Caminho. Por outro lado, apressaram-se em formar mestres em alguns estados, para dar conta da demanda que surgia, colocando 4º e 5º Dans na cintura de gente que tem deixado muito a desejar. Esquecendo que para ser um bom mestre precisariam, no mínimo, de um cursinho de liderança, ética e relações interpessoais. Sobre as Federações, este modelo federativo coordenado pela confederação, ainda é o meio administrativo mais razoável. Porém, os encantos do poder contagiam as pessoas de maneira impressionante. Essa forma de coordenação das federações trouxe outros inconvenientes. Um deles foi o papel dos presidentes que de administradores eleitos para um mandato de tempo limitado, passaram a agir de modo a não abrir mais mão do cargo; transformando-se, em alguns casos, em cargo vitalício. A partir daí surgiram vários equívocos e inconvenientes. Outro problema foi a falta de entendimento entre algumas pessoas que assumiram esses postos e como deveria ser seu relacionamento com o conjunto dos taekwondistas. Surgiram vários casos de inversão de papéis, pois se eram escolhidos para cumprir um mandato e representar o coletivo, não seria justo, o presidente eleito, de posse do poder, colocar sua vontade na frente dos interesses coletivos. Esta distorção teve vários desdobramentos, tais como: • Ausência de debates mais regulares nas federações para resolverem os pontos que não eram consensuais: • Não avaliação do mandato, visto que a presidência das federações pertence ao conjunto dos taekwondistas: • Dificuldades no ingresso de novas associações, principalmente se estas pertencerem a um grupo não afinado com o presidente; • Mudanças unilaterais nos critérios de exames de faixa, deixando bons mestres fora do processo, quando não, centralizando os exames a um único e reduzido grupo que por um argumento administrativo ou burocrático se arroga de possuir legitimidade do que até então não lhe competia; • Os cargos dentro das federações, presidentes e diretores técnicos, foram confundidos e as questões técnicas, isto é, selecionados e exames de faixas, passaram a ser centralizados por estes presidentes, deixando os diretores técnicos com funções mais reduzidas. Com isto, criaram um dos maiores problemas que vivemos atualmente, a política se sobrepondo às questões técnicas. Contudo, a própria confederação, para não se indispor com estes presidentes, até por que são os eleitores do seu mandato, tem feito ´vistas grossas` sobre esses exageros. Desta forma, como alguém pode se opor ao presidente em exercício se é esta quem decide sozinho sobre seu futuro e o futuro dos seus alunos? Embora seja um raciocínio simplista, poderíamos analisar isso pelo seguinte ângulo: se o cargo de presidente é para o cumprimento de um mandato temporário e este é eletivo, como os responsáveis pelas associações ou academias, isto é, os eleitores ou possíveis eleitores deste posto, podem exercer seus direitos já que devem se submeter à vontade e aos mandos deste presidente? A relação não estaria invertida? Elegem o sujeito e depois se tornam, ao mesmo tempo, cúmplices, prisioneiros e vítimas desta centralização. Ultimamente falar em participação política nas federações de Taekwondo, se não for ofensa pode parecer piada. Até porque muitos desses presidentes são ´Mestres´, isto é, mais graduados. E ai se estabelece uma crise ética: respeito e subordinação ao mais graduado ou o cumprimento das normas, estatutos, leis e etc. Não é exagero afirmar que participação política e liberdade individual é um luxo que não cabe dentro de nossas instituições. O cumprimento dos requisitos legais só é importante quando as circunstâncias exigem e somente posto em prática quando os homens do poder acham necessário. Caso contrário, o que vemos é opressão, submissão, ´queimação`, desmoralização e exclusão. A participação do coletivo, respeito à liberdade individual, ética e transparência são ingredientes indispensáveis para a nossa harmonia. Enquanto os taekwondistas não enfrentarem uma discussão sobre esses temas, estaremos todos em constante conflito. Diante de tudo isto, não estaria na hora de deixarmos algumas pretensões pessoais em segundo plano e nos dedicarmos mais na construção de um convívio mais harmonioso e de respeito às diferenças de idéias? Por acaso não estamos esquecendo o DO pelo caminho?
E ainda há quem defenda que os fins justificam os meios.
José Afonso Nunes
Faixa Preta 2º Dan - CBTKD
Mossoró - RN

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